Impressoras 3D e morte da simetria
Publicado oEste post que hoje recupero aqui publiquei-o em fevereiro de 2016 no extinto blog das Arinspunk. Escrevi-o após ver uma palestra TEDx de Tommaso Ghidini (ESA) que me deixou louco. Nela, o Tommaso argumentava que, com as impressoras 3D, devíamos esquecer a simetria e abraçar a assimetria, o modo como a natureza projeta.
Talvez seja apenas a opinião equivocada de alguém que desconhece muito da impressão 3D mas tenho a sensação de que ainda há muito caminho a percorrer nessa abordagem. Tu que achas?
A nossa tecnologia, já desde as primeiras e rudimentares ferramentas, é principalmente de tipo subtrativa. O que quer dizer que para construirmos um objecto, tiramos material dumha porçom inicial de matéria prima, até darmos com a forma desejada.
Com a apariçom das impressoras 3D, este jeito de agirmos muda. Passamos dumha técnica subtrativa, a outra aditiva, pois as impressoras 3D nom subtraem, adicionam matéria.
Esta mudança pode passar desapercebida inicialmente, acochada por trás doutros aspetos com os que o fabbing está a revolucionar a produçom industrial:
- Reduçom ao máximo da escala ótima de produçom.
- Extensom da pirataria até o campo das patentes.
- Início da fabricaçom de objetos no espaço.
Mas traz consigo umha consequência significativa (e muito interessante) desde o ponto de vista do design (de produto): a morte da simetria (ou da sua inutilidade).
A simetria é fundamental à hora de produzirmos peças de jeito subtrativo, pois um objeto é mais doado de fabricar se possui formas singelas dispostas em eixos simétricos. Mas com a técnica aditiva, esta simetria já nom é necessária. Para umha impressora 3D, tanto faz imprimir um objeto simétrico, do que um assimétrico.
Entom, por quê nom continuar a desenhar objetos simétricos[1] e aproveitar o abaratamento/simplificaçom da fabricaçom através do fabbing? Porque a assimetria abre umha nova porta: desenhar/produzir coma a natureza desenha/produz.
Na natureza nada é realmente simétrico[2], mas esta ausência de simetria nom faz diminuir a qualidade das estruturas naturais, bem pelo contrário. Milhons de anos de evoluçom criaram inumeráveis (e excelentes) soluçons para tantos outros problemas. Soluçons que estám a aguardar por nós, para serem aplicadas nos nossos objetos.
Por isso, replicarmos peças simétricas com umha impressora 3D, só polo facto de ser mais doado e barato, é um erro. Para aproveitarmos toda a potencialidade que esta nova tecnologia nos oferece, devemos deixar de pensar como fizemos até agora e começar a desenhar como a natureza o fiz, de jeito orgânico, assimétrico.
Futuro
Permeará nalgum momento este design orgânico, do design de produto ao design gráfico?
Aplicá-lo no design editorial e web, se quadra é um pouco forçado. Mas, como havemos desenhar para umha pantalha flexível adaptada às formas dum objeto tridimensional? Como é que será o design gráfico para a pele digital dum polvo elétrico?
[1] O trabalho com formas assimétricas rara vez foi além do carácter ornamental, ou lúdico/provocativo.
[2] Simetria bilateral e radial nom som simetrias exatas (geométricas).
A imagem “Bifaces de pedra” é um gif feito a partires de fotos de Didier Descouens – CC BY-SA 4.0